
Conservantes: como prolongar a vida útil do meu produto?
O período Paleolítico foi um período de virada de chave para a evolução das espécies que viriam a se tornar o que somos hoje, os Homo sapiens. Há cerca de 2,5 milhões de anos, nossos ancestrais Homo habilis começaram a evoluir gradativamente, tanto fisicamente quanto socialmente: foi neste período que os cérebros de nossos ancestrais começaram a ficar maiores, que o trato intestinal começou a diminuir e se tornar mais eficiente e que o desenvolvimento de laços sociais e de tecnologias teve um avanço considerável.
Uma boa parte destas mudanças foi alavancada por um fato: o domínio do fogo. Essa nova e revolucionária tecnologia permitiu o tratamento térmico de plantas e recursos animais, permitindo que a humanidade se aproveitasse de uma quantidade de nutrientes que antes não era possível. Além disso, o domínio do fogo levou ao desenvolvimento de técnicas de preservação de alimentos, o que permitia aos nossos ancestrais sobreviverem mesmo em condições ambientais mais severas.
Ou seja, a habilidade de garantir uma vida útil longa para produtos de interesse é um dos inúmeros pontos chave para termos evoluído até o que somos hoje: se não fosse esse domínio do fogo, que nos permitiu “acidentalmente” minimizar os microrganismos nocivos que deterioram alimentos, dificilmente teríamos evoluído até a distinta espécie que somos hoje.
Com o passar do tempo, novas técnicas começaram a ser empregadas por nossos ancestrais para sempre garantir a disponibilidade de alimento: técnicas físicas, como o uso de gelo ou secagem, bioquímicas, como processos fermentativos, e químicas, como a adição de determinadas substâncias. Assim, foi possível aumentar o leque de opções de formas de preservação de alimentos. E mais: pensando em tempos mais recentes, como nos últimos dois séculos, essa necessidade de preservar e prolongar a vida útil se estendeu muito além dos alimentos: as indústrias química e farmacêutica, por exemplo, necessitam muito de técnicas e substâncias que preservem o seu produto por uma quantidade de tempo minimamente aprazível, fazendo com que seja possível aos seus clientes terem os produtos disponíveis por um período de tempo mais adequado ao desejo do consumidor.
Então, após este devaneio sobre a evolução humana, vamos ao que efetivamente nos interessa no presente texto: conservantes. De uma forma simples, qualquer substância que adicionemos a um meio para prolongar sua vida útil, inibindo mudanças de características físicas e químicas podem ser denominadas conservantes.
Como funcionam os conservantes?
Agora que definimos o que um conservante é, podemos imaginar que responder a esta pergunta sobre como eles agem não é algo fácil. Afinal, estender a vida útil de um produto é algo que pode ser feito de inúmeras formas.
Antimicrobianos
Um dos tipos mais comuns e antigos de conservantes é o antimicrobiano. A contaminação microbiológica tende a ser levada muito em conta em produtos da área alimentícia, cosméticos e fármacos, sendo às vezes deixada de lado por outros setores. No entanto, as contaminações microbiológicas podem afetar praticamente qualquer tipo de produto, mesmo que sejam produtos aparentemente “imunes”. Por exemplo, existem diversos estudos direcionados para o desenvolvimento de antimicrobianos para aplicação em produtos do refino de petróleo, como gasolina, diesel e gasolina de aviação, que são substâncias consideradas hostis para a maioria dos microrganismos conhecidos. No entanto, já se sabe que existem microrganismos aptos a contaminarem este tipo de produto e causar perdas.
As contaminações microbiológicas normalmente estão associadas a alguns fatores, como mudanças de pH, aparecimento de biofilme, desenvolvimento de mofo visível, desprendimento de cheiro desagradável e perdas de viscosidade. Note que estes efeitos nem sempre são tão drásticos de se perceber em um produto contaminado: de forma geral, se algum destes efeitos se mostra muito intensamente, é um sinal de contaminação com danos praticamente irreversíveis ao produto.
Sobre o funcionamento, a classe de conservantes antimicrobianos atua prevenindo a multiplicação de microrganismos que seriam danosos ao produto. Esta atuação pode ocorrer de diversas formas, sendo muito comum o uso de substâncias ácidas que, ao serem absorvidas pelos microrganismos, irão alterar o pH intracelular, impedindo que reações cruciais para estes microrganismos se manterem vivos e se reproduzirem ocorra. Também é possível utilizar substâncias que interajam com as paredes celulares, danificando esta estrutura ou atuando sobre ela, causando a morte das células dos microrganismos, ou ainda substâncias que causem inibição da síntese proteica, o que vem a causar a morte dos microrganismos.
Como exemplos de conservantes que apresentam esta função antimicrobiana, pode-se citar o ácido benzoico e os benzoatos, o dióxido de enxofre, o ácido lático, o ácido propiônico e os propionatos.
Antioxidantes
Uma outra forma de garantir uma vida mais longa para os produtos, é com o uso de conservantes do tipo antioxidantes. O oxigênio do ar é capaz de atuar em diversas reações com substâncias orgânicas e minerais, gerando alterações indesejadas no produto, como mudanças de cor, textura e mesmo de odor nos produtos. Além disso, se há alguma reação ocorrendo, é provável que outras características do produto também sofram alterações. Produtos orgânicos, especialmente aqueles ricos em gorduras e seus derivados são extremamente suscetíveis à degradação por oxidação e precisam de atenção especial para evitar problemas oriundos desta fonte.
Diferente dos conservantes de tipo antimicrobiano, que possuem uma ampla gama de formas de atuação, os conservantes do tipo antioxidante apresentam basicamente uma forma de atuar: eles inibem a reação de algum componente do produto com oxigênio.
Como exemplos de conservantes com esta propriedade, temos o ácido ascórbico, o BHA, o BHT e novamente o dióxido de enxofre.
Antiaglomerantes
Um terceiro tipo de conservante, necessário quando se lida com produtos em pó ou granulados, são os agentes antiaglomerantes. Materiais granulares ou pós podem vir a se agrupar, formando aglomerados que podem dificultar o seu uso, transporte ou consumo. Essas aglomerações podem ser desencadeadas pela presença de umidade, que desencadeia a formação de microcristais que desencadeiam a aglomeração de pequenas partículas, ou por características cristalinas amorfas dos materiais.
Partindo destas características, uma ação esperada dos antiaglomerantes é que eles façam com que o material apresente um grau de repelência de água para evitar a formação dos microcristais que irão gerar os aglomerados. Também são usadas substâncias que apresentam elevada capacidade de absorção de água, evitando, assim, que o material sólido venha a interagir com a água e formar os grumos.
Como exemplos de agentes antiaglomerantes, temos o carbonato de cálcio, o carbonato de magnésio e o aminossilicato de sódio.
Sequestrantes
Finalmente, vale destacar um outro tipo de substância que é importante para aumentar a vida útil de um produto: os sequestrantes. Esta classe de substâncias apresenta a capacidade de retirar íons metálicos do meio, que também podem causar degradação dos produtos. Esta é uma classe de produtos que merece, por isso, você pode saber mais acessando o artigo completo disponível no nosso blog, clicando aqui.
Mas, se existem várias formas de ação de um conservante, quer dizer que será preciso utilizar uma série de conservantes distintos em meu produto? Felizmente, a resposta é não. Dentre os exemplos citados anteriormente, já é notável que algumas substâncias são capazes de desempenhar efeitos protetivos de mais de uma forma. Além disso, existem produtos que nada mais são do que blendas de conservantes que podem ser utilizados para garantir proteção múltipla para um produto.
O uso de conservantes é seguro?
De forma geral, a maioria dos conservantes pode ser considerada segura. Uma das principais questões é que existem conservantes que são permitidos para usos em classes específicas de produtos: dependendo a finalidade do produto em questão, um determinado leque de conservantes pode ser permitido ou não. Por isso, é importante se ater à legislação vigente em relação ao produto em questão.
No caso dos saneantes, por exemplo, tem-se em vigência a RDC nº 685, de 13/05/2022, que dispõe sobre os requisitos técnicos e os procedimentos para atualização de substância na lista de conservantes permitidos na formulação de produtos saneantes e a IN nº 153, de 13/05/2022, que dispõe sobre a lista de substâncias conservantes permitidas para a formulação de produtos saneantes, incluindo seus limites máximos de concentração. Já para cosméticos, tem-se a RDC nº 528, de 4 de agosto de 2021, que dispõe sobre a lista de substâncias de ação conservante permitidas para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e internaliza a Resolução GMC MERCOSUL nº 35/20.
Dessa forma, respeitando-se as dosagens indicadas, não se deve ter problema algum com o uso de conservantes. Se atentar a esta dosagem é crucial: os conservantes são substâncias químicas, e é de se esperar que, se manipuladas inadequadamente, produzam algum risco.
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